11 de mar. de 2011

FOLIA PARA RICOS E CINZAS PARA O POVO

Marcelino da Rocha*

Antes de completar 100 dias à frente do governo, a presidente Dilma Rousseff dá mostras de que não está devidamente alinhada com os anseios da classe trabalhadora brasileira, principal responsável, aliás, por conduzi-la ao posto máximo de mandatária do país.

Sob o pretexto de combater a ameaça de inflação, o governo acaba de anunciar medidas de caráter antipopular, haja vista os cortes de R$ 50 bilhões no orçamento – numa clara sinalização a favor do mercado e seus grandes financistas, que, atraídos pela maior taxa de juros do mundo, têm abarrotado seus cofres de lucros – e o aumento, pela segunda vez consecutiva, apenas este ano, da taxa básica de juros.

Arquivo Pessoal

Esta combinação de medidas tomadas pelo núcleo econômico do governo Dilma faz vir à tona políticas já derrotadas de governos de forças reacionárias que empunhavam, com ênfase, a bandeira do neoliberalismo na América Latina, e, em particular, no Brasil, como foi o caso do governo comandado pelo tucano Fernando Henrique Cardoso.

Nos últimos anos, setores que jamais investiram recursos na geração de empregos, na produção industrial e no desenvolvimento – e que, vale ressaltar, segundo o próprio Banco Central, ganharam 4,8 trilhões de reais em juros – voltam, agora, a sorrir, uma vez que irão continuar a se beneficiar financeiramente com a decisão do Copom, de elevar para 11,75% a taxa de juros ao ano – cálculos elaborados pelo economista Márcio Pochmann revelam que 70% dos juros pagos pelo governo irão contemplar 20 mil famílias de super-ricos. Como em janeiro a elevação já havia sido de 0,5%, a repetição desta receita faz com que o governo, apenas nos primeiros três meses deste ano, veja sua dúvida crescer ainda mais (quanto mais alta a taxa de juros, maior passa a ser a dívida do governo).

Apenas com o pagamento de juros neste período, vale lembrar, o desembolso do governo será da ordem de R$ 6,6 bilhões. Além disso, a cada elevação de 0,5% na taxa de juros são acrescentados, aproximadamente, R$ 9 bilhões aos ganhos dos especuladores e daqueles que aplicam em títulos públicos. Cabe a pergunta: parte deste valor destinado ao pagamento dos juros não poderia ter sido, por exemplo, utilizado para conceder ao salário mínino um valor maior que os R$ 545,00 aprovados pelo governo Dilma, como, aliás, era a reivindicação defendida pelas principais centrais sindicais brasileiras?

Em relação ao anúncio de corte de R$ 50 bilhões no orçamento, sob a argumentação da necessidade de conter os gastos do estado, já foi historicamente comprovado que gastos públicos significam, na verdade, investimentos em infraestrutura, ampliação da distribuição mais justa de renda e diminuição das taxas de desemprego, dentre outras.

Isto nos leva a fazer outro questionamento: porque o governo, ao contrário de botar em ação a tesoura e causar prejuízos aos trabalhadores e, em especial, ao setor produtivo, não elimina parte do que paga de juros ao capital privado e que assolam a dívida pública e, por extensão, a economia nacional?

Soma-se a isso – justo no momento em que várias categorias profissionais têm conquistado aumentos reais de salários – a ausência de uma correção justa da tabela do Imposto de Renda, que, aliás, está com uma defasagem de 44,5% tendo em vista que, a partir de 1996 (data que podemos delimitar como marco do processo de estabilização monetária do país), a inflação do período chegou a 97,85%, enquanto a correção das tabelas não foi superior 53,5%.

Sem uma correção justa, estes trabalhadores que foram beneficiados com aumentos no salário poderão, por exemplo, ter este ganho anulado pela elevação do imposto retido na fonte. A continuar neste rumo, de uma média de mais de duas medidas impopulares por mês, a expectativa de dias melhores para o trabalhador brasileiro começará a ruir.

Nos valendo da ocasião – véspera do Carnaval – podemos dizer que, com tais medidas anunciadas, vemos, de um lado, sobrarem motivos de folia para os mais ricos, e, de outro, cinzas para a imensa maioria do povo, que anseia, na verdade, – e foi com esta esperança que elegeu Dilma presidente – ver o Brasil seguir sua caminhada firme e a passos largos em direção a um processo de desenvolvimento nacional, com democracia, crescimento econômico, valorização do trabalho e distribuição de renda mais justa.

* Marcelino da Rocha é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e S. J. Bicas e da Federação Interestadual dos Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (FIT Metal).

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